As forças norte-americanas, britânicas e francesas começaram seus ataques militares contra a Líbia no sábado passado (19), numa operação batizada de Odyssey Dawn (Odisseia do Amanhecer) pelos Estados Unidos (os britânicos a denominam Operação Ellamy e os franceses Operação Harmattan).
A ação militar ocorre na sequência de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, preparada pelo Ocidente, visando estabelecer uma zona de "exclusão aérea" (proibição de voos) na Líbia, e começou através de bombardeios durante várias horas sobre esse país do norte da África.
Há muito tempo que os países ocidentais nutrem em seu seio a vontade de derrubar o regime de Muamar Kadafi. As recentes batalhas entre as tropas governamentais e os rebeldes no país ofereceram uma desculpa imediata e rara para uma intervenção militar ocidental.
Na sequência das crises políticas, econômicas e sociais que sacudiram os países vizinhos como o Egito, a Tunísia, mas também outros países do Oriente Médio, a Líbia foi também bastante atingida por semelhantes turbulências sociais, com as forças da oposição apelando à renúncia de Kadafi de um poder que ele detém desde muitas décadas. Mas a crise na Líbia é também o resultado parcial do encorajamento dos países opcidentais, que parecem ter tido um lampejo de esperança de que Kadafi possa ser apeado do poder por turbulências como as que atingiram a Tunísia ou o Egito.
O regime de Kadafi, entretanto, optou por adotar uma posição firme e mobilizar suas forças armadas. Em face de tropas governamentais mais poderosas, as forças da oposição líbia rapidamente se encontraram à beira do precipício, longe das expectativas dos países ocidentais adotadas pelos Estados Unidos.
Diante desse cenário, os países ocidentais elaboraram uma resolução estabelecendo uma "zona de exclusão aérea" no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, depois lançaram os ataques militares em nome da garantia da aplicação do mandato das Nações Unidas.
Pouco importam as escusas belamente embaladas. A intervenção militar em curso na Líbia faz parte de intenções políticas estratégicas do Ocidente.
Os Estado Unidos e outros países ocidentais consideram desde há muito tempo o dirigente líbio uma espinha na garganta que convém extirpar. Entretanto, alguns dos meios empregados pelo Ocidente nos anos passados não conseguiram provocar uma mudança de poder nesse país africano rico em petróleo. Nessas circunstâncias, as atuais trurbulências no Oriente Médiio têm sido consideradas uma oportunidade rara para o Ocidente para derrubar Kadafi e realizar uma mudança de poder na Líbia. Certos políticos ocidentais utilizam também a ação militar na Líbia como um meio de eles próprios contornarem seus problemas políticos atuais.
Nos Estados Unidos, as crises sociais atuais, como as manifestações públicas em Wisconsin e outros estados, afundaram numerosos órgãos do Estado numa paralisia de funcionamento. O governo igualmente sofreu um revés na questão do orçamento federal devido à oposição do Congresso.
O resultado é que o índice de popularidade do presidente Obama atingiu o nível historicamente mais baixo desde que ele assumiu o cargo. Sua popularidade em queda, se nada for feito, constituirá para ele um sério desafio à sua reeleição. Nesse contexto, uma ação militar limitada na Líbia pode ser considerada uma maneira eficaz de ajudar Barack Obama a sair da sua atual situação política desfavorável.
A França, ponta de lança da intervenção ocidental, também sofre problemas sociais importantes. Malgrado os golpes e diversos remanejamentos ministeriais, o presidente Nicolas Sarkozy permanece, segundo as últimas pesquisas de opinião pública, atrás de sua rival política Marine Le Pen, que dirige a Frente Nacional, partido de extrema direita. Seu partido espera que a ação militar da França na Líbia ajude a alavancar a popularidade do presidente, quando as eleições presidenciais de 2012 se aproximam.
Devido à sua incontestável superioridade militar, as ações bélicas da coalizão internacional na Líbia estão a ponto de provocar uma mudança política nesse país do norte da África. Mas também, devido à influência de Kadafi no interior da Líbia e à sua determinação de unir todo o povo num combate contra uma agressão ocidental, as forças da coalizão muito provavelmente terão de renunciar a lançar uma ofensiva terrestre intensiva e de larga escala.
Não se pode também excluir a possibilidade de que, em face das forças ocidentais muito mais poderosas, Kadafi adote uma posição muito mais flexível, optando por discutir com a oposição e pedindo a mediação de outras grandes potências, através da ONU.
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